sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Luamanda, de Conceição Evaristo.


“Lua, Luamanda, companheira, mulher. Havia dias em que era tomada de uma nostalgia imensa. Era a lua mostrar-se redonda no céu, Luamanda na terra se desminlinguia todinha. Era como se algo derretesse no interior dela e ficasse gotejando bem na altura do coração. Levava a mão ao peito e sentia a pulsação da vida desenfreada, louca. Taquicardia. Tardio seria, ou mesmo haveria um tempo em que as necessidades do amor seriam todas saciadas? Ela iniciara cedo na busca, menina, muito menina ainda. Lembrava-se da primeira paixão. Sentimento esquivo, onde misturavam revistas em quadrinhos, giz colorido, partilha de pão com salame e um epílogo cruel dramatizado pela surra que levara da mãe. O amor dói? Na época pensou que a dor de amor era tanta, porque tinha onze anos e um corpo-coração pequeno. E desejou crescer. Entre um pelo e outro que nasciam em suas axilas e sobre o seu púbis ensaiou e experimentou sorrisos, acenos distantes, piscar de olhos, troca de desenhos, cartas mal-escritas borradas com os dedos trêmulos de amores platônicos. O amor é terra morta?”


Trecho do conto Luamanda, de Conceição Evaristo. Em “Olhos d’água”, editora Pallas. 


Vontade de escrever todas as palavras associadas, em parzinhos-poesias! Que bonito isso de escrever contando, revivendo, denunciando e elucidando. 

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poesia de pureza.