sábado, 27 de abril de 2013

entre frases e fases,
nos becos e vielas
nas janelas e escadas
aguardam os sorrisos escondidos,
os sonhos estreitados,
manipulados e deturpados
pela grande e esmagadora
falsa e subvertida,
máquina de diversão doentia.
força, coragem e luta,
assim se desmascara a
farsa cotidiana que chega
à todos pela primazia
da tecnologia.  

sexta-feira, 26 de abril de 2013

poesia de alimento
poesia de resistência
poesia de paixão
poesia de lágrimas
poesia de sangue
poesia de poesia do mundo
poesia de choque e perturbação
poesia para não calar
poesia para não consentir
poesia para gritar
poesia para ressaltar
poesia para transformar
poesia para lembrar
poesia para marcar


arte conceitual e dadaísmo de josef beuys



quinta-feira, 25 de abril de 2013

desmedidas formas de não ser,
aparente susto descrente
revive os restos de espírito
encara absurdos descodificados.

tortura a ânsia de nadas
ainda sem paradeiro
sem encantos, sem encontros
se finda na falácia de ilusões.

em busca? construída
converteu-se em dogma
que parte em pedaços
todo acaso, toda sorte.

navega no escuro mar de si. 
agora
a hora
explora
embora
aflora
a aurora. 

domingo, 14 de abril de 2013

Sessão de cinema no sábado de chuva, em companhia de bons amigos.
O filme tem linguagem diferente e surpreendente, que mistura cinema e teatro, na adaptação e representação da peça "Eurídice", que retoma o mito de Orfeu e Eurídice, história de amor interrompido, inconcluído e trágico. O drama tem diálogos maravilhosos, e a proposta de reviver as personagens da peça é espantosa, já no início da apresentação da nova montagem, onde os atores que outrora haviam personificado as personagens prontamente relembram das falas e dos desdobramentos da história. Problemáticas profundas, doces e dramáticas, embates sobre as personalidades, suas falhas e incompletudes, o amor e suas máscaras, seus enganos e suas restrições. Incrível, pesado, denso e mesmo com a dinâmica lenta e confusa, ótima leitura e condução do drama. Cansativo, confesso (!), mas belo.  

Herbert Marcuse.

"Foi precisamente porque ele viu na sexualidade a representação do princípio de prazer integral que Freud foi capaz de descobrir as raízes comuns tanta da infelicidade 'geral' como da neurótica, numa profundidade muito abaixo de toda a experiência individual, assim como de reconhecer uma repressão 'constitucional' primária, subjacente a toda a repressão conscientemente experimentada e administrada. Freud tomou sua descoberta muito seriamente - seriamente demais para identificar a felicidade com a sua sublimação eficiente no amor produtivo e outras atividades produtivas. Portanto, ele considerou uma civilização orientada para a realização da felicidade como uma catástrofe, como o fim de toda a civilização. Para Freud, um enorme abismo separava a liberdade e felicidade reais da pseudoliberdade e pseudofelicidade que eram praticadas e apregoadas numa civilização reprimida."
"Eros e Civilização - uma interpretação filosófica do pensamento de Freud", página 227. 

sábado, 13 de abril de 2013

sexta-feira, 12 de abril de 2013

pseudo-romance, pra colorir! 

Rara entrevista de Sigmund Freud

Entre as preciosidades encontradas na biblioteca da Sociedade Sigmund Freud está essa entrevista. Foi concedida ao jornalista americano George Sylvester Viereck, em 1926. Deve ter sido publicada na imprensa americana da época. Acreditava-se que estivesse perdida, quando o Boletim da Sigmund Freud Haus publicou uma versão condensada, em 1976. Na verdade, o texto integral havia sido publicado no volume Psychoanalysis and the Fut número especial do “Journal of Psychology”, de Nova Iorque, em 1957. É esse texto que aqui reproduzimos, provavelmente pela primeira vez em português.

Setenta anos ensinaram-me a aceitar a vida com serena humildade.

Quem fala é o professor Sigmund Freud, o grande explorador da alma. O cenário da nossa conversa foi uma casa de verão no Semmering, uma montanha nos Alpes austríacos.

Eu havia visto o pai da psicanálise pela última vez em sua casa modesta na capital austríaca. Os poucos anos entre minha última visita e a atual multiplicaram as rugas na sua fronte. Intensificaram a sua palidez de sábio. Sua face estava tensa, como se sentisse dor. Sua mente estava alerta, seu espírito firme, sua cortesia impecável como sempre, mas um ligeiro impedimento da fala me perturbou.

Parece que um tumor maligno no maxilar superior necessitou ser operado. Desde então Freud usa uma prótese, para ele uma causa de constante irritação.


S. Freud: Detesto o meu maxilar mecânico, porque a luta com o aparelho me consome tanta energia preciosa. Mas prefiro ele a maxilar nenhum. Ainda prefiro a existência à extinção.

Talvez os deuses sejam gentis conosco, tornando a vida mais desagradável à medida que envelhecemos. Por fim, a morte nos parece menos intolerável do que os fardos que carregamos.

Freud se recusa a admitir que o destino lhe reserva algo especial.

- Por quê – disse calmamente – deveria eu esperar um tratamento especial? A velhice, com sua agruras chega para todos. Eu não me rebelo contra a ordem universal. Afinal, mais de setenta anos. Tive o bastante para comer. Apreciei muitas coisas – a companhia de minha mulher, meus filhos, o pôr do sol. Observei as plantas crescerem na primavera. De vez em quando tive uma mão amiga para apertar. Vez ou outra encontrei um ser humano que quase me compreendeu. Que mais posso querer?

George Sylvester Viereck: O senhor teve a fama, disse que Sua obra influi na literatura de cada país. O homem olha a vida e a si mesmo com outros olhos, por causa do senhor. E recentemente, no seu septuagésimo aniversário, o mundo se uniu para homenageá-lo – com exceção da sua própria Universidade.

S. Freud: Se a Universidade de Viena me demonstrasse reconhecimento, eu ficaria embaraçado. Não há razão em aceitar a mim e a minha obra porque tenho setenta anos. Eu não atribuo importância insensata aos decimais.

A fama chega apenas quando morremos, e francamente, o que vem depois não me interessa. Não aspiro à glória póstuma. Minha modéstia não e virtude.

George Sylvester Viereck: Não significa nada o fato de que o seu nome vai viver?

S. Freud: Absolutamente nada, mesmo que ele viva, o que não e certo. Estou bem mais preocupado com o destino de meus filhos. Espero que suas vidas não venham a ser difíceis. Não posso ajudá-los muito. A guerra praticamente liquidou com minhas posses, o que havia poupado durante a vida. Mas posso me dar por satisfeito. O trabalho é minha fortuna.

Estávamos subindo e descendo uma pequena trilha no jardim da casa. Freud acariciou ternamente um arbusto que florescia.

S. Freud: Estou muito mais interessado neste botão do que no que possa me acontecer depois que estiver morto.

George Sylvester Viereck: Então o senhor é, afinal, um profundo pessimista?

S. Freud: Não, não sou. Não permito que nenhuma reflexão filosófica estrague a minha fruição das coisas simples da vida.

George Sylvester Viereck: O senhor acredita na persistência da personalidade após a morte, de alguma forma que seja?

S. Freud: Não penso nisso. Tudo o que vive perece. Por que deveria o homem construir uma exceção?

George Sylvester Viereck: Gostaria de retornar em alguma forma, de ser resgatado do pó? O senhor não tem, em outras palavras, desejo de imortalidade?

S. Freud: Sinceramente não. Se a gente reconhece os motivos egoístas por trás de conduta humana, não tem o mínimo desejo de voltar a vida, movendo-se num círculo, seria ainda a mesma.

Além disso, mesmo se o eterno retorno das coisas, para usar a expressão de Nietzsche, nos dotasse novamente do nosso invólucro carnal, para que serviria, sem memória? Não haveria elo entre passado e futuro.

Pelo que me toca estou perfeitamente satisfeito em saber que o eterno aborrecimento de viver finalmente passará. Nossa vida é necessariamente uma série de compromissos, uma luta interminável entre o ego e seu ambiente. O desejo de prolongar a vida excessivamente me parece absurdo.

George Sylvester Viereck: Bernard Shaw sustenta que vivemos muito pouco, disse eu. Ele acha que o homem pode prolongar a vida se assim desejar, levando sua vontade a atuar sobre as forças da evolução. Ele crê que a humanidade pode reaver a longevidade dos patriarcas.

- É possível, respondeu Freud, que a morte em si não seja uma necessidade biológica. Talvez morramos porque desejamos morrer.

Assim como amor e ódio por uma pessoa habitam em nosso peito ao mesmo tempo, assim também toda a vida conjuga o desejo de manter-se e o desejo da própria destruição.

Do mesmo modo com um pequeno elástico esticado tende a assumir a forma original, assim também toda a matéria viva, consciente ou inconscientemente, busca readquirir a completa, a absoluta inércia da existência inorgânica. O impulso de vida e o impulso de morte habitam lado a lado dentro de nós.

A Morte é a companheira do Amor. Juntos eles regem o mundo. Isto é o que diz o meu livro: Além do Princípio do Prazer.

No começo, a psicanálise supôs que o Amor tinha toda a importância. Agora sabemos que a Morte é igualmente importante.

Biologicamente, todo ser vivo, não importa quão intensamente a vida queime dentro dele, anseia pelo Nirvana, pela cessação da “febre chamada viver”, anseia pelo seio de Abraão. O desejo pode ser encoberto por digressões. Não obstante, o objetivo derradeiro da vida é a sua própria extinção.

Isto, exclamei, é a filosofia da autodestruição. Ela justifica o auto-extermínio. Levaria logicamente ao suicídio universal imaginado por Eduard von Hartamann.

S.Freud: A humanidade não escolhe o suicídio porque a lei do seu ser desaprova a via direta para o seu fim. A vida tem que completar o seu ciclo de existência. Em todo ser normal, a pulsão de vida é forte o bastante para contrabalançar a pulsão de morte, embora no final resulte mais forte.

Podemos entreter a fantasia de que a Morte nos vem por nossa própria vontade. Seria mais possível que pudéssemos vencer a Morte, não fosse por seu aliado dentro de nós.

Neste sentido acrescentou Freud com um sorriso, pode ser justificado dizer que toda a morte é suicídio disfarçado.

Estava ficando frio no jardim.

Prosseguimos a conversa no gabinete.

Vi uma pilha de manuscritos sobre a mesa, com a caligrafia clara de Freud.

George Sylvester Viereck: Em que o senhor está trabalhando?

S. Freud: Estou escrevendo uma defesa da análise leiga, da psicanálise praticada por leigos. Os doutores querem tornar a análise ilegal para os não médicos. A História, essa velha plagiadora, repete-se após cada descoberta. Os doutores combatem cada nova verdade no começo. Depois procuram monopoliza-la.

George Sylvester Viereck: O senhor teve muito apoio dos leigos?

S. Freud: Alguns dos meus melhores discípulos são leigos.

George Sylvester Viereck: O senhor está praticando muito psicanálise?

S. Freud: Certamente. Neste momento estou trabalhando num caso muito difícil, tentando desatar os conflitos psíquicos de um interessante novo paciente.

Minha filha também é psicanalista, como você vê…

Nesse ponto apareceu Miss Anna Freud acompanhada por seu paciente, um garoto de onze anos, de feições inconfundivelmente anglo-saxonicas.

George Sylvester Viereck: O senhor já analisou a si mesmo?

S. Freud: Certamente. O psicanalista deve constantemente analisar a si mesmo. Analisando a nós mesmos, ficamos mais capacitados a analisar os outros.

O psicanalista é como o bode expiatório dos hebreus. Os outros descarregam seus pecados sobre ele. Ele deve praticar sua arte à perfeição para desvencilhar-se do fardo jogado sobre ele.

George Sylvester Viereck: Minha impressão, observei, é de que a psicanálise desperta em todos que a praticam o espírito da caridade cristão. Nada existe na vida humana que a psicanálise não possa nos fazer compreender. “Tout comprec’est tout pardonner”.

Pelo contrário! – bravejou Freud, suas feições assumindo a severidade de um profeta hebreu. Compreender tudo não é perdoar tudo. A análise nos ensina não apenas o que podemos suportar, mas também o que podemos evitar. Ela nos diz o que deve ser eliminado. A tolerância com o mal não e de maneira alguma um corolário do conhecimento.

Compreendi subitamente porque Freud havia litigado com os seguidores que o haviam abandonado, por que ele não perdoa a sua dissensão do caminho reto da ortodoxia psicanalítica. Seu senso do que é direito é herança dos seus ancestrais. Una herança de que ele se orgulha como se orgulha de sua raça.

Minha língua, ele me explicou, é o alemão. Minha cultura, mina realização é alemã. Eu me considero um intelectual alemão, até perceber o crescimento do preconceito anti-semita na Alemanha e na Áustria. Desde então prefiro me considerar judeu.

Fiquei algo desapontado com esta observação.

Parecia-me que o espírito de Freud deveria habitar nas alturas, além de qualquer preconceito de raças que ele deveria ser imune a qualquer rancor pessoal. No entanto, precisamente a sua indignação, a sua honesta ira, tornava o mais atraente como ser humano.

Aquiles seria intolerável, não fosse por seu calcanhar!,

Fico contente, Herr Professor, de que também o senhor tenha seus complexos, de que também o senhor demonstre que é um mortal!

Nossos complexos, replicou Freud, são a fonte de nossa fraqueza; mas com freqüência são também a fonte de nossa força.


O valor da vida. Uma entrevista rara de Freud. Tradução de Paulo Cesar Souza
Tradução de Paulo Cesar Souza – 20 de abril de 2010
Fonte: http://www.espacopsicanalitico.com.br/Freudentrevista.htm

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Chagall: beleza e leveza!


falta o título.

São os corpos disciplinados,
as mentes submissas, vidas
controladas e sugestionadas;
há tanta ausência no mundo!
Disfarçados, os poderes
disparam suas munições,
e procuramos, por meio de
métodos de outrem,
sanar nossos indefesos
instintos, expostos ao
vazio compulsivo de
uma saga ao consumo
extremo; há muito se
reproduzem as mesmas condições
alienantes! 

sexta-feira, 5 de abril de 2013

metabiótica, alexandre orion




Wilco - "you and i"


You And I

You and I
We might be strangers
However close we get sometimes
Its like we never met
But you and I
I think we can take it
All the good with the bad
Make something that no one else has, But
You and I
You and I
Me and You
What can we do
When the words we use
sometimes are misconstrued

Well I won't guess
Whats coming next
I can't ever tell you
The deepest well
I've ever fallen into

Oh I don't wanna know
Oh I don't wanna know
Oh I don't need to know
Everything about you
Oh I don't wanna know
And you don't need to know
That much about me

You and I
We might be strangers
However close we get sometimes
Its like we never met
But you and I
I think we can take it
All the good with the bad
Make something that no one else has, But
You and I


quinta-feira, 4 de abril de 2013

As palavras escorrem em mãos torturadoras, os silêncios morrem na garganta de miseráveis sonhadores. Escrever para atravessar a torrente de vazio deliberado, escrever para respirar ares proibidos, escolher ser antes de padecer. Acontece que onde vai a marca da dor vai também a fortuna de encontrar-se, de sentir-se eu, sentir-se natureza talvez sórdida, mas jamais impotente. Silêncios construtivos, desencadeiam forças aniquiladoras, fomentam vontades e aspiram ao potente existir. E palavras se desmancham, se reagrupam, se debatem e crescem, unem e carecem de alimento, de escolhas. Preencher pode nada significar, mas há sempre uma fagulha acesa, sempre! 

poesia de pureza.