sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

vento.

Sob a luz de uma lua nada solitária, rodeada por estrelas que golpeiam o céu com suas luzes de efeitos alarmantes, toca o chão as patas de um animal que no momento raciocina muito pouco, a procura de subterfúgios para tuas ações nem de longe louváveis. Em suas veias pulsa um sangue de mentira, de tragédia e sedução. Tem por testemunha a prisioneira no universo de infinitas proporções, sem poder mover-se, tendo por cenário a caça de uma pérola, de uma arma, de um artefato de outra era, de outra forma, de outro amor. No que tange à realidade, ninguém pode alcançá-la, só, caminhante de duras e cruas faces, as águas correm em rios de cores ardentes e chocantes. Coroa pitangas e amoras, odores e sofreguidões, as flores mesmas que caçam o galopante perseguidor de sonhos. Jaz na memória um ontem enforcado. 

the black crowes

que lindo este cartaz! 

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

desencontros

um não encontrar-se no mundo
não um se no mundo encontrar
se encontrar no mundo um não
mundo se não no encontrar um
no encontrar um se mundo não
encontrar um não mundo no se

domingo, 13 de janeiro de 2013

e. hopper


Edward Hopper’s Western Motel – Walter Wells 1957

O Cavaleiro Inexistente. Ítalo Calvino

"Por isso, a certa altura, minha pena se pôs a correr. Corria ao encontro dele; sabia que não tardaria a chegar. A página tem o seu bem só quando é virada e há a vida por trás que impulsiona e desordena todas as folhas do livro. A pena corre empurrada pelo mesmo prazer que nos faz correr pelas estradas. O capítulo que começamos e ainda não sabemos que história vamos contar é como a encruzilhada que superamos ao sair do convento e não sabemos se nos vai colocar diante de um dragão, um exército bárbaro, uma ilha encantada, um novo amor.
Corro, Rambaldo. Não me despeço nem da abadessa. Já me conhecem e sabem que depois das batalhas, abraços e enganos retorno sempre a este claustro. Mas desta vez será diferente... Será...
De narradora no passado, e do presente que me tomava a mão nos trechos conturbados, aqui está, ó futuro, saltei na sela de seu cavalo. Quais estandartes novos você me traz dos mastros das torres de cidades ainda não fundadas? Quais fumaças de devastações dos castelos e dos jardins que amava? Quais imprevistas idades de ouro você prepara, você, malgovernado, você precursor de tesouros que custam muito caro, você, meu reino a ser conquistado, futuro..."

Fortuita leitura. Para lembrar que existir é uma força [coágulo de existir!], e temos de impulsioná-la. Aventuras, enganos, acasos e penitências, todos carregamos, a galopes, pelo destino; beleza também!
Tanta gente que existe, mas não faz questão nem noção de Ser!
E como é difícil existir quando se percebe como mancha descaracterizada em meio a multidão sem face, sem identidade, na concepção esmagadora de uma cultura da dispersão e da perdição! 
"(...) TAMBÉM A EXISTIR SE APRENDE..."

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

"O CAVALEIRO INEXISTENTE"


"Cada coisa se move na página lisa sem que se veja nada, sem que nada mude em sua superfície, como no fundo tudo se move e nada muda na crosta rugosa do mundo, pois só existe uma extensão da mesma matéria, exatamente como a página em que escrevo, uma extensão que se contrai e se decanta em formas e consistências diversas e em vários matizes mas que ainda pode se representar espalmada numa superfície plana, inclusive em seus aglomerados pilosos, cheios de penugem ou nodosos como um casco de tartaruga, e tal pilosidade, penudez ou nodosidade às vezes parece que se mexe, ou seja, há mudanças das relações entre as várias qualidades distribuídas na dimensão da matéria uniforme ao redor, sem que nada se desloque substancialmente. Podemos dizer que o único que de fato efetua uma deslocação aqui é Agilulfo, não digo o seu cavalo, não digo sua armadura, mas aquele algo sozinho, preocupado consigo mesmo, impaciente, que está viajando a cavalo dentro da armadura. Em volta dele, as pinhas caem do galho, os riachos correm entre os seixos, os peixes nadam nos riachos, as lagartas roem as folhas, as tartarugas agitam-se com o ventre duro no chão, mas é apenas uma ilusão de movimento, um perpétuo virar-se e revirar-se como a água das ondas. E nessa onda se vira e se revira Gurdulu, prisioneiro do tapete das coisas, espalmado também ele na mesma massa com as pinhas os peixes as lagartas as pedras as folhas, mera excrescência da crosta do mundo."
(página 88)

domingo, 6 de janeiro de 2013

.pontuação.


No azedume de uma taça interrompida
Na esfera de uma sala vazia
Na estrada perdida de todos os dias
Encontrar
Encontrar
E depois perder-se
E depois render-se
Agora identifique seus percalços, sublime suas tempestades, engula seus recalques. Ninguém verá. 

CATASTROIKA

Documentário dos jornalistas gregos Katerina Kitidi e Aris Chatzistefanou sobre articulações para as privatizações na Grécia, com a análise de processos semelhantes ocorridos em diversos países, e os resultados destas políticas neoliberais de concentração de poder e riquezas nas mãos de oligarquias. Os jornalistas também foram responsáveis pelo documentário "Debtocracy", lançado na internet em 2011. 

link youtube: http://www.youtube.com/watch?v=5fRLNixfstU

poesia de pureza.