sábado, 12 de abril de 2014

Trecho de “Onde Andará Dulce Veiga”, de Caio F. de Abreu

“ Lá em cima, o céu não era um tampa fechada sobre a terra, como quase sempre eu via, sepultado vivo. Ele era aberto e sem fim e cheio de mundos e indizível de qualquer outra forma que não fosse esta banal, porque não haveria palavras para ele, o Muito Maior que Tudo.
Galáxias, buracos negros, supernovas, anãs brancas, pulsares, quasares, constelações, asteroides, cometas, planetas, satélites, anéis, pontos de sombra e de luz. Minha cabeça girava, acompanhando o movimento determinante das estrelas sobre meus ombros que suportavam o mundo.
Tive medo de, por um segundo que fosse, continuar girando o corpo, olhando para cima, e de repente alguma coisa em mim, ou eu inteiro, saísse direto sem rumo nem volta em direção ao céu tão habitado que, qualquer ponto escuro que eu fixasse mais tempo, imediatamente se enchia também de estrelas.
Para não me perder, abri a boca e os olhos, me enchi de estrelas feito ele.”

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poesia de pureza.