domingo, 13 de janeiro de 2013

O Cavaleiro Inexistente. Ítalo Calvino

"Por isso, a certa altura, minha pena se pôs a correr. Corria ao encontro dele; sabia que não tardaria a chegar. A página tem o seu bem só quando é virada e há a vida por trás que impulsiona e desordena todas as folhas do livro. A pena corre empurrada pelo mesmo prazer que nos faz correr pelas estradas. O capítulo que começamos e ainda não sabemos que história vamos contar é como a encruzilhada que superamos ao sair do convento e não sabemos se nos vai colocar diante de um dragão, um exército bárbaro, uma ilha encantada, um novo amor.
Corro, Rambaldo. Não me despeço nem da abadessa. Já me conhecem e sabem que depois das batalhas, abraços e enganos retorno sempre a este claustro. Mas desta vez será diferente... Será...
De narradora no passado, e do presente que me tomava a mão nos trechos conturbados, aqui está, ó futuro, saltei na sela de seu cavalo. Quais estandartes novos você me traz dos mastros das torres de cidades ainda não fundadas? Quais fumaças de devastações dos castelos e dos jardins que amava? Quais imprevistas idades de ouro você prepara, você, malgovernado, você precursor de tesouros que custam muito caro, você, meu reino a ser conquistado, futuro..."

Fortuita leitura. Para lembrar que existir é uma força [coágulo de existir!], e temos de impulsioná-la. Aventuras, enganos, acasos e penitências, todos carregamos, a galopes, pelo destino; beleza também!
Tanta gente que existe, mas não faz questão nem noção de Ser!
E como é difícil existir quando se percebe como mancha descaracterizada em meio a multidão sem face, sem identidade, na concepção esmagadora de uma cultura da dispersão e da perdição! 

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poesia de pureza.