"Sempre olháramos longe. Seria necessário aprender a viver o dia-a-dia? Estávamos sentados lado a lado sob as estrelas, tocados pelo aroma do cipreste, nossas mãos se encontravam; o tempo havia parado um instante. Iria continuar a escorrer. E então? Sim ou não, poderia ainda trabalhar? Minha raiva contra Filipe esfumaria? A angústia de envelhecer me retomaria? Não olhar muito longe. Longe seriam os horrores da morte e dos adeuses. Seria dentadura, a ciática, as enfermidades, a esterilidade mental, a solidão em um mundo estranho que não compreenderíamos mais e que prosseguiria seu curso sem nós. Conseguiria não levantar os olhos para esses horizontes? Quando aprenderia a percebê-los sem pavor? Nós estamos juntos, é a nossa sorte. Nós nos auxiliaremos a viver nessa derradeira aventura da qual não retornaremos. Isso no-la tornará tolerável? Não sei. Esperemos. Não temos escolha."
parágrafo final da primeira história do livro "A Mulher Desiludida", de Simone de Beauvoir, intitulada "A Idade da Descrição".
parágrafo final da primeira história do livro "A Mulher Desiludida", de Simone de Beauvoir, intitulada "A Idade da Descrição".
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