quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Encarnação.



Quando se percebeu no mundo, era tudo ilusão. Suas palavras descoradas mentem sobre sua fantástica mania de se descolar do real, e frente ao cotidiano que escorre em mesmices e rotinas de ordens e repetições, a fuga é recorrente, também inevitável. Perceber é tanto cair de um abismo de descontentamentos quanto recriar o que não foi, o que seria, o nada quase eloquente. Resistir é fingir, é reelaborar, e de em quando em quando encantar-se com os sonhos que são frágeis fios de condução de algum sentido, de alguma saída. O caos é contemplado de perspectivas doces, desde o tempo que não se sabe mais, posto que é da força perdida que retira a força que orienta sua conexão com o mundo, este que só assiste o crescimento desesperado da descrença, das violências e dos ódios gratuitos porque fundamentados em moralidades enviesadas e reduzidas ao ataque ao diferente, quando ser só é permitido se formatado naquele modelo de suposta boa conduta e de consumo contente. Enquanto isso tudo explode em sangue, perseguições e perdições, a dança do vazio é contemplada, os delírios são valorizados porque genuínos, quase um produto da esperança revoltada mas que não abandona nada, o céu, o sol, o mar de água salgada e potencializadora. Reúne a inocência de não estar, a resiliência de ser quase humano, a auto insatisfação da covardia, e com a face lavada pela chuva e alimentada pelo vento encara a existência, pois assim não vai desistir, carregando o peso da Vida com seus perigosos enganos e algumas doçuras de encantos. Firme caminha pelo vale da solidão, com um sorriso ou outro gracejo para a escuridão de sua alma. Uma brincadeira boba de viver para sobreviver.

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poesia de pureza.